PING PONG COM OS CANDIDATOS
         
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PING PONG COM OS CANDIDATOS

on 23 Setembro, 2022

No último dia 21 de setembro, o COSEMS/MG teve a honra de receber três candidatos ao governo de Minas Gerais no evento “SUS/MG – de 2023 a 2026”. Estavam presentes Mateus Simões (Novo), candidato a vice-governador na chapa de Romeu Zema (Novo); Carlos Viana (PL); e Marcus Pestana (PSDB), que tiveram a oportunidade de expor suas propostas para a melhoria do serviço de saúde no estado.

Durante o evento, eles responderam a perguntas formuladas pelo Conselho e também enviadas pela plateia, composta de secretários municipais de saúde e gestores.

Contudo, o COSEMS/MG, com o intuito de oferecer informações que possam auxiliar a todos na escolha do melhor candidato para Minas Gerais, decidiu enriquecer o debate com questões que afetam diretamente o atendimento à população, uma vez que as ações visam oferecer saúde integral e de qualidade.

COSEMS/MG: Demora no atendimento é, em geral, atribuída à falta de médicos nos centros de saúde, sobretudo em cidades do interior de Minas Gerais. Como o senhor pretende resolver essa questão?

MATEUS SIMÕES: Na verdade, esse é um problema nacional. Precisamos que o governo federal coloque de pé novamente um programa de atração dos médicos para o interior. Está faltando cobertura assistencial médica no interior. Minas Gerais tem esse problema agravado, porque muitas regiões têm pouca estrutura; o médico também volta por conta de questões familiares ou prefere ir para uma cidade maior. Então, esse é um drama que nós não vamos conseguir resolver sem um programa federal estruturado.

MARCUS PESTANA: Não há propriamente falta de médicos, há uma má distribuição em função da organização do mercado de trabalho. Os grandes centros, mais desenvolvidos, concentram os recursos humanos especializados da saúde. É preciso ter uma estratégia de capilarização com bons cursos, o que ajuda indiretamente a enraizar os recursos humanos na região. Também é necessário criar projetos para a saúde da família e oferecer uma carreira que valorize o médico. O grande desafio é a atenção primária. O restante se resolve com um bom sistema de transporte sanitário.

CARLOS VIANA: Temos, hoje, no Brasil, uma portaria que impede a formação de novos médicos. Por um determinado período teve validade, porque o principal objetivo era avaliarmos melhor os cursos de medicina que estavam surgindo em grande quantidade. Minha visão é que essa portaria precisa ser revista para que o MEC tenha condição de garantir que os cursos estão cumprindo o mínimo regulamentar. Também é preciso criar programas de incentivo para que esses profissionais possam buscar as áreas mais remotas. Nossa maior dificuldade é manter um profissional em regiões onde muitas vezes ele tem que viajar 200, 300 quilômetros para dar um plantão. Isso tem sido um desafio muito grande. Ao meu ver, são os pontos principais para que a gente possa resolver pelo menos em parte essa questão.

COSEMS/MG: Uma reclamação frequente dos usuários do SUS é quanto ao atendimento, que acaba por prejudicar a visão da população sobre o serviço gratuito de saúde. Para o senhos, qual seria a solução para mudar esse cenário?

MS: Acredito que parte da falta de humanização no atendimento tem a ver com a sobrecarga dos nossos equipamentos hospitalares. Por isso, continuo defendendo o hospital de porta fechada, que tem condição de atender o paciente com o cuidado que merece. No pronto socorro, chega paciente com febre junto daquele que sofreu um ataque cardíaco e precisa de atendimento imediato. Isso gera estresse na equipe e que acaba resultando num atendimento menos cuidadoso. Temos que tentar segmentar a saúde básica com o investimento necessário. E o grande desafio são os hospitais pequenos, que acabam funcionando como uma mescla de posto de saúde, unidade de Pronto Atendimento e hospital de média complexidade.

MP: Tínhamos um programa de humanização e melhoria de qualidade no atendimento. Mas, o mais urgente é fortalecer a atenção primária. Estou assustado com as dificuldades do programa Saúde da Família; sem ela, não é possível articular as redes assistenciais dentro de uma lógica em que o cidadão seja encaminhado pelo sistema e não fique mendigando em várias portas os seus direitos. Então, o problema central é requalificar.

CV: Minas Gerais foi pioneiro na questão dos consórcios de saúde. Hoje, muitas prefeituras se juntam no entorno de unidades, cada cidade tem uma especialidade ou então constroem conjuntamente para realizar o atendimento eletivo. Com isso, as pessoas se deslocam pouco. Mas, sem o atendimento na macrorregião, os prefeitos precisam colocar as pessoas em hospitais sobre rodas e mandar para Belo Horizonte ou local mais próximo. Dependendo que a distância, existe risco, custo é tudo isso. O primeiro passo é reorganizar as regiões de saúde, fortalecer os consórcios e terminar os hospitais regionais, dando a eles plena capacidade para que possamos manter o paciente mais próximo de casa. Para isso, a gente tem que buscar uma nova fonte de financiamento para o Estado.

COSEMS/MG: Muitos serviços ofertados à população mineira estão sendo beneficiados com o uso de sistemas integrados. Porém, essa realidade ainda não chegou na saúde. O que pode ser feito para agilizar a modernização?

MS: Essa é uma discussão interessante. Apesar de parecer uma solução fácil, entendo que ela, às vezes, não atende as peculiaridades regionais. Os municípios têm autonomia, cada consórcio tem uma lógica de gestão e os hospitais possuem sistemas próprios. Muitos hospitais que fazem atendimento no interior são filantrópicos e, portanto, privados. Mas precisamos trazer soluções tecnológicas para dentro da realidade assistencial hospitalar brasileira. E a mudança da legislação sobre a telemedicina vai acabar obrigando as nossas estruturas a se modernizarem em termos de sistema e junto com isso, vai vir um sistema de agendamento e prontuário informatizados.

MP: Precisamos retomar a valorização e o aperfeiçoamento dos sistemas de regulação, tanto de urgência como de emergência, como o SUS Fácil, que eu criei. A prioridade deve ser instalar um sistema de prontuário eletrônico unificado em toda Minas Gerais.

CV: Taiwan tem um sistema de SUS idêntico ao nosso e lá eles contam com um prontuário único. Todo o histórico do paciente está ali registrado. Então, por exemplo, se ela tentar fazer a mesma consulta em cidades diferentes, o sistema não vai aceitar. Isso não acontece no Brasil, o que gera redundância no atendimento. E não existe um controle sobre isso. Um dos primeiros passos para reformulação e modernização é criarmos um prontuário único, onde o sistema mostra todo o histórico do paciente. Inclusive, isso vai favorecer a telemedicina, que em Minas Gerais funciona muito bem. Pelas distâncias que nós temos, pode resolver a questão do atendimento.

COSEMS/MG: A saúde de Minas Gerais possui muitos desafios que esbarram na burocracia, investimento e planejamento. Na sua visão, qual o maior entrave a ser discutido e combatido?

MS: Acho que o maior entrave do SUS no país é a parametrização, não levar em conta características regionais muito específicas, porque ela é uma padronização nacional. Então, distâncias, que para nós é um problema muito sério, não são levadas em consideração. Temos um desafio em Minas que está sendo superado, que é a integração das nossas cidades. Nossos gestores estão muito mais comprometidos em dialogar para achar uma solução, mesmo que signifique ter um hospital de referência na cidade vizinha.

MP: Temos que ser mais ousados, participar de outras discussões, entrar na arena política, no conflito distributivo. Só a garantia dos recursos não assegura a execução do SUS constitucional. É preciso entender de ajuste fiscal. Minas está quebrada. Tem R$ 50 bilhões que vão ficar para o próximo governo, quase a metade do orçamento anual. A dívida previdenciária é explosiva e o número será crescente. É preciso sair da fase de diagnóstico. O centro tem que ser a atenção primária.

CV: A saúde no Brasil tem recursos suficientes. O problema está na gestão desse financiamento. E, como eu falei, a redundância, a não objetividade, as distâncias, tudo isso gera uma sobrecarga sobre o SUS. Ao meu ver, precisamos trabalhar de forma que o dinheiro público seja melhor usado, que as pessoas tenham mais qualidade. Esse, para mim, é o grande desafio hoje na saúde pública brasileira.

COSEMS/MG: Qual será o papel do Conselho em seu Plano de Governo?

MS: Não consigo imaginar uma estrutura de gestão da saúde sem o COSEMS/MG. Não vamos deixar de ter uma relação interfederativa entre a secretaria de estado de saúde e município. Mas o Conselho consegue neutralizar qualquer risco interferência política na forma de pactuação política em Minas. Portanto, eu acho que é central fortalecer a relação do estado e dos municípios a cada passo que a gente dá. Com o COSEMS/MG, até discussão de temas que ainda não estão prontos para virarem deliberações faz com que a nossa política de saúde seja muito mais racional e unificada.

MP: A gestão do SUS é tripartite, ou seja, preciso que os secretários municipais e estaduais estejam organizados para interlocução com o Ministério. E o COSEMS/MG tem um histórico de liderança nacional e de muita capacidade de agregação dos gestores dos 853 municípios. Não é uma tarefa nada fácil, somos o estado com maior número de municípios. O COSEMS/MG tem um papel central na gestão do SUS/MG e, não foi à toa, que criei o CIB micro e macrorregional.

CV: Ninguém faz política sozinho. Quando falamos sobre políticas específicas, seja para educação ou saúde, nós precisamos de pessoas que estejam envolvidas com esses setores. Assim a gente horizontaliza, cria um diálogo. A imposição de políticas públicas no país nos leva a comportamentos extremos. Para se planejar, o estado precisa ouvir os setores. E o COSEMS/MG tem uma importância muito grande, já que em trazer esse conhecimento. A política pública pode ser feita dentro da experiência que o Conselho tem, já que vivem o dia a dia da cidade. É preciso ter sensibilidade para entender a importância do SUS. E essa sensibilidade política passa pelo diálogo e o COSEMS/MG tem esse papel.